Na hora de fechar um acordo, esteja pronto para
fazer concessões. Assim, você ganha o negócio e pontos para o futuro
A EDS, uma das
maiores empresas de tecnologia do mundo, passou a gerenciar o centro de
processamento de dados da Telesp, operadora de telefonia fixa do grupo
Telefônica, que atua em São Paulo. O valor do contrato não foi revelado, mas
estima-se uma receita anual de cerca de 100 milhões de reais. Nos bastidores
estava o mexicano Micael Cimet, presidente da EDS para a América Latina. Orgulhoso
de manter relações duradouras com seus clientes, Cimet também se depara com
situações difíceis à mesa de negociação.
Criar empatia e
buscar uma solução que satisfaça a ambos os lados é a principal estratégia usada
para contornar eventuais problemas, além de chegar de mente aberta e sem
resistência para conversar. Negociar não significa guerrear. Um negociador de
primeira linha é aquele que se baseia na parceria e na transparência.
Atualmente vivemos em uma constante mesa de negociações onde todos participam
inclusive você.
No ambiente de
trabalho, para dar conta de suas responsabilidades você depende da cooperação e
do apoio de pessoas de diferentes funções. Sua habilidade em costurar acordos determina
seu grau de influência no ambiente. Compreender na totalidade o jogo da
negociação representa atualmente uma tremenda vantagem competitiva. Mas nem
sempre as negociações são simples e têm desfechos rápidos. Muitas são complexas
e exigem mais que habilidades medianas. Como lidar, por exemplo, com pessoas
razoáveis que, sob estresse, se tornam agressivas e intratáveis? Com alguém que
foca somente em seu próprio interesse e se recusa a ceder?
A negociação não
é uma ciência exata nem possui receita pronta. A boa notícia é que qualquer
profissional com autoconfiança e algum poder de persuasão pode aprimorar sua
capacidade nesse campo. Negociar é, sobretudo, uma questão de atitude. Ela se
faz de 10% de técnica e 90% de atitude. Veja a seguir como lidar com os
entraves mais comuns das negociações -- para chegar a um desfecho no qual você
e seu interlocutor saiam vitoriosos:
Diga não ao não
Qualquer pessoa está sujeita a deparar com tipos
como esses do outro lado da mesa de negociação. O mais comum é topar com um
interlocutor que insulta e ataca diretamente as propostas alheias, tática
tipicamente competitiva. A regra de ouro, nesse caso, é não ceder nem revidar
na mesma moeda, isso só intensificará o confronto. Invente várias opções, para
tentar acomodar ao máximo seus interesses aos de seu interlocutor. Quanto mais
alternativas você tiver na manga, maiores as chances de romper eventuais
confrontos.
Razão versus emoção
Se o processo está caminhando bem, você fica
satisfeito. O problema é quando sente que suas necessidades não estão sendo atendidas.
Quando isso acontece, é fácil se deixar levar pelas emoções. Bons negociadores
podem até se envolver emocionalmente, mas não deixam que isso transpareça. É
preciso manter o distanciamento, seguindo em frente de maneira persistente. Levar
a negociação para o lado pessoal é um dos piores erros.
A arte de ceder
Não há espaço para a falta de jogo de cintura na
negociação. Para que ambas as partes saiam satisfeitas, é preciso que cada uma
ceda um pouco. Numa transação difícil, não basta mostrar à outra parte que você
pode conceder-lhe o que ela deseja. Quase sempre as pessoas não consideram esse
tipo de demonstração e aumentam suas exigências. Existem os negociadores que
fazem pequenas concessões e pedem que você faça outras bem maiores em
retribuição. Ou, então, os tipos manipuladores, cuja estratégia preferida é
solicitar pequenos favores pouco antes de o acordo ser fechado. Com receio de
arruinar o negócio e, por tabela, o relacionamento, a maioria capitula. A
recomendação, no entanto, é ter sempre uma oferta na manga e não reagir de
maneira compreensiva às necessidades de última hora.
Impasse à vista
Impasses ocorrem por falta de empatia e sintonia
entre as partes, ou quando os ânimos se exaltam e a tensão toma conta do
ambiente. Para tentar transpor o muro entre você e seu interlocutor, o ideal é
sugerir um intervalo e retomar o processo outro dia. Aproveite para reavaliar
suas expectativas e retorne à mesa com novas soluções. Se a tentativa de acordo
fracassar, solicite a presença de uma terceira pessoa. Alguém imparcial que
auxilie ambos os lados a reestruturar a negociação. É melhor não fazer um
acordo do que fechar um acordo ruim. O importante é deixar que seu interlocutor
guarde uma imagem positiva de você para o futuro.
Não brinque com fogo
Não brinque com fogo
Você deve estar disposto a correr riscos enquanto
negocia. Sempre se valendo da inteligência e do bom senso. Mas utilizar
estratégias de alto risco (ameaças, estratagemas e blefes) é como brincar com
fogo. Muitos negociadores oferecem ao oponente uma cadeira baixa ou quebrada,
colocam-no posicionado contra o sol, exageram na temperatura do
ar-condicionado, por exemplo. O objetivo é sobressair, deixando o outro lado
subjugado e desconfortável. Bons negociadores jogam limpo e são confiáveis.
Eles sabem que basta um deslize ético para sua credibilidade ficar
comprometida, não somente para um mas para todos os acordos.
Seu território, meu território
É bem mais provável que a maior parte dos acordos
seja feita por telefone, e-mail ou no decorrer de um agradável jantar de
negócios do que propriamente diante de uma mesa. Ela representa um poderoso
símbolo, e nenhum simbolismo é bom nessas horas. Especialistas garantem que as
pessoas atuam melhor em seu próprio território. A negociação está diretamente
ligada ao tipo de relacionamento que você cultiva com o outro.
Diógenes Dalle Lucca, comandante do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da polícia paulista, enfrenta a negociação para libertação de reféns e uma das maiores dificuldades do processo é acalmar o sequestrador. A técnica usada pelo comandante serve de exemplo. É mantido o contato visual além da voz calma e pausada. Se o seu “oponente” fizer exigências, nem sempre elas devem ser atendidas. É preciso criar empatia, mas permanecer firme, sob o risco de perder a credibilidade. Concessões de ambos os lados fazem parte da negociação. Assim como o comandante Lucca faz com sequestradores, é preciso reunir dados sobre o outro lado. Ao final da operação, deve-se ainda analisar os erros e acertos do processo para estar ainda mais preparado no futuro.
Por: Letícia Colombini
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